quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Rainha do Lar


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Quando era criança e tentava me projetar no futuro, enxergava uma mulher independente e muito bem sucedida. Marido e filhos (ou filhos e marido) não eram fatores constantes nos meus sonhos de mulher adulta. Fruto de uma geração de feministas, eu era muito bem consciente do meu potencial e dos meus direitos.

Aos dezessete anos arregacei as mangas e fui construir o meu império. Saia do colégio e ia para o trabalho com a disposição de uma formiga operária. Eu estava no caminho certo para a mulher adulta que eu pensava em ser.

Os anos foram passando e o salto alto começou a incomodar. Quando a barriga cresceu e meu corpo me obrigou a lembrar da minha condição de mulher, percebi que o percurso para a antiga projeção de mim mesma não seria tão fácil.

Abracei a maternidade de corpo e alma e automaticamente me vi sonhando em ser dona de casa, em esquecer a carteira de trabalho no fundo da gaveta para sempre e me dedicar ao meu bebê sem restrições de tempo.

E porque sou uma mulher de sorte, casei, mudei de cidade e por força das circunstâncias me vi em casa tempo integral, com uma filha linda para criar, uma casa para cuidar e um marido para amar. Plano-Amélia concretizado.

Mas os dias passavam sem que a pilha de roupas para passar acabasse, sem que a pia esvaziasse, sem que a fome da família se satisfizesse. Humana e insatisfeita por natureza, comecei a sentir saudades do trabalho, em ter meu próprio dinheiro... e o horror às tarefas domésticas foi crescendo. Afinal, não há trabalho mais ingrato no mundo, certo?

Errado.

Antes de ir para o time das feministas outra vez, parei para pensar se o trabalho doméstico é realmente “invisível”, como dizem por aí, por não ser reconhecido. Tudo bem, o marido pode até não perceber que você caprichou na faxina, o filho pode até não ter piedade quando chega da escola e bagunça tudo. Você pode ficar com a unha lascada e sem salário. Mas há, sim, senhoras e senhores, dignidade em cuidar do lar.

Afinal, o lar não é uma casa qualquer. O lar é onde moram as pessoas que você mais ama. Amor implica cuidado. O lar é onde sua família se (re)unirá, todos os dias, para ser família. A casa que não tem comida nem aconchego não congrega, manda cada um para um lado diferente.

Há, sim, um certo gostinho, em ser a única que sabe onde todas as coisas estão, o que precisa ser comprado e o que dura até semana que vem. Ter o controle total da casa, domesticá-la, não é tarefa fácil. Se você conseguiu, não se sinta explorada porque o marido não sabe onde fica o papel higiênico. Sinta-se orgulhosa.

Porque é você quem vai olhar para trás na velhice e ter a certeza, mesmo que seja a única em tê-la, de que foi a arquiteta e o peão-de-obra daquele império mais que especial: a sua família.


13 comentários:

  1. Oi Nina!!
    Adorei seu texto! Falou tudo e mais um pouco!
    Me identifiquei demaais!rsrsrs
    Beijinhoss
    Ju e CLara

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  2. ei nina! adoro seu blog! postei comentário varias vezes! hihihihihi! a vida d mamaes solteiras me encanta! vai ser ótimo entrar aqui e ler o q vc vai escrever sobre nós.. mas agora vc ta casadissima d novo..

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  3. Oi Nina!!
    Nossa geração tem isso mesmo de querer ser mulher independente. Nossos planos são crescer, estudar, ser autosuficiente, ter independência financeira, carreira de sucesso e se der, um cara bacana pra amar e ser amada por ele. Mas de fato para muitas de nós isso fica em último plano. Filhos então...esses nunca são prioridade. E vamos ficando velhas e muitas vezes sem amor.
    Algumas de nós seguem por caminhos diferentes.
    Eu por exemplo optei por priorizar minha vida pessoal. Tenho um emprego que gosto mas que num me paga essas coisas e num me dá metade das coisas que eu aspirava nos meus devadeios de futura mulher independente. Terminei a universidade e ainda num tive nem tempo e nem grana pra fazer minha pós graduação.
    Casei cedo, com 25 anos. Mas casei porque quis. Amo meu marido e faria tudo de novo. Sou profissional, esposa, dona de casa, amiga e ainda quero ser mãe. Será que vô dar conta? Minha mãe diz que sim mas pra eu não ter pressa. Até ela que tem 75 anos já pensa com a nossa cabeça de maternidade em último plano.
    Sabe Nina, as vezes dá vontade mesmo de largar essa correria de mercado de trabalho e cuidar da casa, da família e dos filhos. Mas isso mesmo é que acho que não conseguiria.
    Admiro as mulheres que conseguem, as respeito, acho carinhoso cuidar da casa, deixar ela bonita, confortável para quem amamos.
    Um beijão pra vc!!!

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  4. Nina, que texto lindo, como sempre...
    A gente se parece um tantão, rsrs

    Já escrevi um texto falando disso mesmo, quero dizer, do mesmo tema, mas de uma maneira bem menos linda e gentil que vc. Me sobe os nervos esse povo que se acha muito mais importante que uma dona de casa e faz cara feia só porque tem um trabalho de fazer qualquer um babar.
    Eu já estive dos dois lados, e sei o que pra mim é melhor e me dá mais prazer... a gente deveria ter todos, a chance de escolher o que fazer, sem sermos apontados como incompetentes ou alienados.
    As pessoas nao conseguem entender da importancia que se tem cuidar de um lar, de uma familia... pra mim, ver meus filhos sendo bem orientados é o melhor pagamento. Sim, o trabalho doméstico é mt injusto, mas tem grandes compensacoes, porque nao somos somente robôs que fazem o trabalho de casa, somos organizadoras de um lar, e cuidamos do nosso bem mais precioso, nossos filhos, nossos amores...

    né nao?
    bjs pra ti querida

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  5. Nina,

    AMEI seu blog, seu texto e seu NOME.
    Minha filha querida se chama Nina e foi 9e continua sendo) a razao de deixar a carreira de lado e me dedicar a ela e a uniao da familia.
    Vou continuar seguindo seu blog sempre.
    um bjao,
    Paula

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  6. Achei um amor o seu post um amor, masssss como o título do meu blog diz sou uma dona de casa inconformada...Porém, eu sou meio inconformadinha em várias ramos da minha vida e é meio só para encher o saquinho de todo mundo +D
    Na verdade, o tempo que fiquei sem trabalhar, só como dona do meu micro mini lar, fiquei me sentindo um pouco estranha, até pq só ficávamos eu e a a minha cindoquinha (meu pet esquisito)o dia inteiro sozinhas...
    Não tinha muito dindin para fazer um curso ou algo do genero, e ficava meio assim de pedir money para o maridon, com ele já arcando com todas as despesas...Bom resumindo: acho que ficaria mais contentinha se tivesse um baby, mas tenho problemas de ovários policistico e o emprego chegou antes =D Mas acho que qdo tiver meu fiótinho, talvez não volte a trabalhar...
    Bjim Lindo lindo lindo seu post

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  7. Falou bonito!
    Gostei da forma como tratou o assunto.Vou procurar olhar de forma diferente essa tarefa de Dona do Lar, pois estou na fase que projeta o futuro exatamente como você projetava.As coisas podem mudar não é mesmo?Pensarei mais sobre isso.
    Adoro seu blog!

    Beijokas!

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  8. Seu texto foi otimo.
    Muito bem escrito e muito bem posicionado a nos mulheres, amantes, pensantes, mae dona de casa, trabalhadoras enfim
    adorei e add vc nos meus favoritos tb.
    me visite quando puder
    http;//euparasemprecinderela.blogspot.com
    bjos

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  9. Aff, confesso que não consigo ver nenhum glamour naquela pia enorme ali na cozinha! Mas AMO cozinhar pro meu cônjuge! Quem sabe quando os filhos chegarem (e a bagunça triplicar! =]) eu não queira mesmo ser a rainha do lar.
    bjins

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  10. Bom... vc SABE o tanto q gostei desse texto, né? Tô querendo sentir isso tudo. MESMO!
    Não é fácil essa vida de jornada tripla (no meu caso: filha, trabalho e faculdade. Imagina se tivesse casa e marido?) e SEMPRE algo/alguém sai prejudicado com isso... e a Sofia está sendo prejudicada no meu caso e eu to ficando mais angustiada a cada dia... afs...
    BJks

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  11. Amiga, pra variar seus textos estão fantásticos! Adoro a forma como vc expõe suas opiniões, ainda que nem sempre esteja simetricamente de acordo.
    Bom, ainda não sou dona de casa, mas confesso que não tenho a menor vontade de ser, exclusivamente, essa rainha do lar, orgulhosa de seus afazeres. Não que eu vá ser ruim, caso seja necessário. Farei da melhor maneira possível e, provavelmente, tentarei ler esse texto novamente buscando me apegar ao consolo. Mas não consigo conceber a minha felicidade baseada exclusivamente na doação e no meu próprio reconhecimento. Cuidar da casa, do marido e, principalmente, dos filhos, é grandioso e é uma pena que não se reconheça esse valor. Mas se foi a época em que eu, como mulher, pudesse confiar somente nisso para ser feliz e me satisfizesse em ser somente a "arquiteta e o peão-de-obra" da família. O feminismo trouxe o conhecimento da satisfação pessoal feminina e não me cabe mais questionar se isso foi bom ou não. Temos que lidar buscando o equilíbrio. E essa felicidade e o prazer de me ver como alicerce de uma família construída, para mim, só será possível na medida em que uma satisfação pessoal e profissional tenha ocorrido junto com esse processo de construção.
    Portanto, não sou do time das feministas, pq, apesar de já ter uma filha e, assim, já ter começado sozinha a construção de uma família, ainda sonho com um marido, com uma família completa, com uma casa. Mas também não tenho vocação para plano-amélia. Pq acredito que só serei capaz de cuidar bem das pessoas que amo na medida que for capaz de cuidar bem de mim tb.
    Mas deixo uma coisa bem clara: essa é a minha opinião, baseada na minha vivência pessoal, que não é das maiores. Não tem nada de taxativo, de generalização, de julgamentos. Admiro profundamente as mulheres que são capazes de encontrar sua satisfação pessoal no cuidado com a família, fazendo disso sua profissão. E textos como esses são ótimos para apoiar e dar força àquelas que passam por isso ou que estão em um processo de transição.
    Parabéns, amiga, por, além de escrever bem, falar de assuntos polêmicos e corriqueiros.

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  12. Falando assim, vc me faz ter vontade de largar o emprego e cuidar só do lar hehehehe,

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